14 de outubro, 2010 - 18:24 (Brasília) 21:24 GMT
Para especialistas, resgate dos mineiros no Chile virou referência
Especialistas ouvidos pela BBC elogiaram a operação de resgate dos 33 mineiros presos a cerca de 600 metros de profundidade no Chile, avaliando que ela se transformou em um ponto de referência para outras missões semelhantes.
O resgate, concluído com sucesso nesta quarta-feira, foi levada a cabo com a colaboração de centenas de especialistas, incluindo técnicos em perfuração, equipes de resgate, médicos e psicólogos."Esta operação será um exemplo de como fazer bem as coisas", disse à BBC Mundo o médico Pedro Arcos González, diretor da Unidade de Investigação em Emergência e Desastres da Universidade de Oviedo, no norte da Espanha.
"Tudo foi feito de maneira muito profissional e correta", avaliou.
David Seath, membro do Instituto de Mineração de Escócia e ex-chefe do serviço britânico de resgates em minas, disse que a operação estabeleceu um recorde: nunca antes foi possível resgatar um grupo tão grande de mineiros presos por tanto tempo e a tal profundidade.
"Sem dúvida, será estabelecido um ponto de referência na história das operações de resgate", disse o escocês, para quem "a operação foi extraordinariamente complexa" e “repleta de problemas técnicos”.
“Este é, sem dúvida, um dia extraordinário para as comunidades de mineiros em todo o mundo, pela forma como o resgate foi feito, muito profissional.”
Perfuração
Seath destacou a habilidade dos técnicos perfuradores no trabalho de criar o túnel até onde estavam presos os mineradores, por “terem sido capazes de manter a perfuradora na direção correta até o alvo, uma área relativamente pequena 700 metros abaixo da superfície".
"Este é, sem dúvida, um dia extraordinário para as comunidades de mineiros em todo o mundo, pela forma como o resgate foi feito, muito profissional."
David Seath
Desde o início da operação, os perfuradores sabiam que havia muitos problemas técnicos em potencial, entre eles, a instabilidade do solo – o que provocou o desabamento na entrada da mina que deixou os mineiros soterrados 70 dias atrás.
"As principais dificuldades na perfuração estavam nos primeiros metros, perto da superfície, onde a terra não está consolidada", disse Seath.
"Porém, uma vez que a perfuradora chega às camadas de rocha sólida, o furo perfurado se torna mais estável. E segundo as imagens do fundo do túnel que temos visto, podemos observar que não foi preciso colocar reforços porque a estrutura de rocha é sólida".
Fênix
Outro marco na operação feita na mina San José foi o desenho da cápsula Fênix.
Em outras partes do mundo, os equipamentos de resgate nas minas consistem de jaulas simples de metal onde viaja uma única pessoa, mas não há sistemas de comunicação nem equipamento de oxigênio como havia na Fênix.
Apesar do sucesso na operação chilena, profissionais da indústria de mineração estão muito conscientes de que, todos os anos, centenas de mineiros morrem no mundo devido às más condições de segurança nas minas.
"Em cada desastre, lições são aprendidas", disse Seath.
"Talvez, a operação na mina de San José nos ensine que, em qualquer mina, em qualquer parte do mundo, existe o risco de futuros desastres similares, a menos que se ponham em vigor regulamentos adequados de segurança".