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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mineração tem impactos econômicos e sociais

 
Daniel Chiozzini
 
Ao se tratar dos problemas ambientais atuais, pouco se fala do papel dos recursos minerais e das questões relacionadas à sua exploração. O conhecimento sobre a disponibilidade desses recursos é escasso, assim como a exploração dos mesmos, se considerarmos o tamanho total da chamada litosfera, a camada do globo terrestre composta de rochas. No entanto, um planejamento para a exploração é tão necessário quanto aos diretamente relacionados à hidrosfera (água) e à atmosfera (gases). Além de estarem relacionados ao meio ambiente como um todo, também possuem uma dimensão social e econômica.
Segundo o geólogo Celso Ferraz, ex-diretor do Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), uma comparação é bastante ilustrativa para indicar a proporção da litosfera e da atividade direta do homem sobre ela: "Se o planeta Terra fosse reduzido ao tamanho de uma bola de futebol, a mina mais profunda já construída seria equivalente a uma pequena rasura no couro da bola, praticamente imperceptível a olho nu", afirma. No entanto, ele complementa que a relevância dos recursos minerais no dia-a-dia do ser-humano é incalculável: "Para se ter uma idéia, dos 105 elementos químicos conhecidos, dos quais a grande maioria é produzida pela mineração, só um chip de computador tem 60 deles. Os recursos minerais estão associados a todos os eletrodomésticos, aos meios de transporte, e à grande maioria dos utensílios que usamos", afirma. Desse modo, estão também na maioria dos processos extrativos e industriais atuais.
Mas as consequências dessa atividade não são poucas. Para o biogeógrafo norte-americano Jared Diamond, os recursos minerais estão associados a três dos doze graves problemas ambientais com os quais o planeta convive na atualidade (veja resenha do livro Colapso de Jared Diamond) : o despejo de produtos químicos no meio ambiente, entre os quais estão os rejeitos de mineradoras; a dependência de combustíveis fósseis; e o esgotamento de recursos hídricos.
Com relação aos rejeitos de mineradoras, Celso Ferraz diz que eles têm um impacto pequeno em relação a outros existentes: "os rejeitos de mineradoras e de usinas metalúrgicas são, proporcionalmente, bem inferiores do que os rejeitos de outras indústrias e resíduos urbanos", afirma. O problema estaria, segundo o geólogo, na mineração ilegal, como no caso do garimpo do ouro, que lança resíduos de mercúrio no meio ambiente. Outro problema estaria em um "passivo ambiental", ou seja, uma poluição gerada pela atividade mineradora de grandes empresas quando inexistia uma legislação reguladora, o que ainda precisa ser aferido detalhadamente. Atualmente, o problema está sendo administrado, até porque a legislação obriga: "Uma mineração que se inicia hoje tem que ter um impacto ambiental negativo 60% a 70% menor que uma mineração que começou a operar há 20 anos atrás", afirma Ferraz. Casos em que é diagnosticado um "saldo ambiental negativo elevado", ou seja, que gera danos elevados ao meio ambiente, só são autorizados mediante medidas mitigadoras e compensatórias que garantam uma efetiva melhora das condições ambientais.
Mas uma legislação rígida pode não ser suficiente, segundo um relátório preparado pelo pesquisador Carlos Eugênio Gomes Farias, no final de 2002, para o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e para o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O documento, considerado uma referência em termos de dados consolidados sobre o setor, menciona que o perfil do setor mineral brasileiro é composto por 95% de pequenas e médias minerações. Entre as pequenas minerações, o cálculo do número de empreendimentos é considerado "uma empreitada complexa devido ao grande número de empresas que produzem na informalidade, aliada às paralisações frequentes das atividades, que distorcem as estatísticas" (p. 3). Desse modo, a superação dos problemas dos dejetos passa também por um maior controle dessas atividades, cuja parcela significativa está na informalidade.
Além disso, o relatório também aponta problemas na legislação que regula a exploração dos recursos minerais: "os mineradores e especialistas entrevistados apontam que a legislação ambiental é extensa e avançada, porém conflitante, criando dificuldade para sua aplicação" (p. 20) . Entre os fatores que comprometem a sua aplicabilidade, estão os conflitos com a legislação mineral, de 1967; o aumento desnecessário de restrições do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama); a carência de estrutura e aparelhamento de determinados órgãos de fiscalização envolvidos; a atuação conflitante de alguns órgãos municipais, estaduais e federais; e a atuação do Ministério Público, que tem emitido pareceres sem embasamento técnico e conflitantes com os órgãos de meio ambiente. Sendo assim, segundo o relatório, o setor minerador acaba prejudicado: "O grande minerador, que em geral dispõe de corpo técnico e de recursos financeiros, apesar de alguns atropelos e atrasos, tem conseguido administrar esses conflitos. Com relação ao pequeno minerador resta, na maioria dos casos, o descumprimento da legislação" (p. 21)
No que diz respeito aos combustíveis fósseis, Celso Ferraz concorda com a gravidade apontada no livro de Jared Diamond: "O uso de combustíveis fósseis para geração de eletricidade, como óleo e carvão, é talvez o problema mais sério de poluição associado aos recursos minerais", diz. Além de pesquisas tecnológicas para reduzir os efeitos negativos da geração de eletricidade, o pesquisador defende uma solução controversa: o uso da energia nuclear, hoje responsável por 78% da energia produzida na França, 31% da Alemanha, 29% do Japão e 19% dos EUA. Quanto à escassez da água, o geólogo concorda que se trata de um grande problema no mundo atual. No entanto, o problema reside não apenas na dificuldade para sua obtenção, mas no acesso reduzido de um grande número de pessoas: "Segundo a Unesco, 1,2 bilhões de pessoas não têm acesso à agua potável hoje no mundo e 2,4 bilhões não dispõem de nenhum tipo de serviço de tratamento de água", afirma. Desse modo, a exploração dos recursos minerais deve levar em conta também o acesso a esses recursos.
No que diz respeito às atividades de extração, o pesquisador entende que as problemáticas sociais também devem ser consideradas e a legislação já contempla esses aspectos. Hoje já é possível saber com exatidão quando será a exaustão de uma mina antes do início da sua exploração. A autorização para que a mesma ocorra só é dada mediante a apresentação e aprovação de um plano de aproveitamento que, nas suas últimas etapas, estabelece o que será feito após o esgotamento do minério. Estas últimas etapas podem, inclusive, se estender por vários anos.
Tal exigência se explica pelo fato da atividade mineradora gerar um impacto profundo nas regiões onde ocorre. Um exemplo recente é o município de Canaã dos Carajás, que teve sua população aumentanda de aproximadamente 11 mil para mais de 15 mil pessoas em cerca de dois anos (veja notícia sobre Canaã dos Carajás na revista Patrimônio) devido à instalação de uma das unidades da mineradora Vale do Rio Doce. Segundo explica Ferraz, "de maneira simplificada, pode-se dizer que os problemas causados pelo fechamento de uma mina para a região circunvizinha, devido a sua exaustão, podem ser comparados ao fechamento de uma grande fábrica, frigorífico ou de uma grande obra.". Desse modo, cabe ao poder público e à empresa de mineração, cientes de tal fato, desenvolver um planejamento minimizar os efeitos da redução da atividade econômica, do desemprego gerado, queda da arrecadação de impostos, entre outros.
Neste sentido, Celso Ferraz conclui que a resolução de problemas relacionados à exploração mineral e ao meio ambiente como um todo passa por uma abordagem sistêmica, levando em consideração a relação entre a atroposfera (a esfera das atividades humanas), com as outras esferas terrestres, que são a litosfera (rochas), a hidrosfera (água), a atmosfera (gases) e a biosfera (vida). Para o geólogo, é necessário equacionar dois graves problemas: o crescimento demográfico e o crescimento da urbanização, pensando a sustentabilidade da exploração dos recursos disponíveis.
O relatório preparado por Carlos Eugênio Gomes Farias também vai ao encontro dessas preocupações e do paradigma da sustentabilidade, pensando a especificidade da atividade mineradora e suas contribuições para o desenvolvimento do país. Ele reproduz uma entrevista dada pelo engenheiro Gildo Sá em 2002, então diretor do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), órgão ligado ao Ministério da Ciência e da Tecnologia (MCT): "quanto à relação entre mineração e meio ambiente, julgo imprescindível um permanente entrosamento entre o órgão normalizador da mineração e os órgãos ambientais fiscalizadores. A mineração, diferente de outras atividades industriais, possui rigidez locacional. Só é possível minerar onde existe minério. Esta assertiva, apesar de óbvia, sempre gera polêmicas entre mineradores e ambientalistas. A solução da questão passa por estudos que contemplem os benefícios e problemas gerados pela mineração (...)" (p.12)


Dica de site

O site http://www.geologiadobrasil.com.br/, mantido pelo geólogo Nelson C.S.Filho traz material interessante sobre geologia e mineração... Vale a pena dar uma olhada, tem bastante material...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Deslizamentos que matam: veja se você e a sua família correm perigo

Por Pedro Jacobi (www.geologo.com.br)


A corrida imobiliária desenfreada e os novos assentamentos urbanos estão, cada vez mais, colocando o homem e a natureza em risco.
À medida que contruimos em locais de encostas íngremes, em terrenos de grande instabilidade, nos flancos das grandes elevações, nas proximidades da planície aluvial de rios ou nas áreas de influência de córregos e drenagens estaremos correndo o risco de perder os nossos investimentos e as nossas vidas.
Estas são áreas onde os deslizamentos de terra se sucedem ao longo dos anos.
A cada ano, invariavelmente, as notícias se repetem. Sempre nas épocas das chuvas os escorregamentos em áreas urbanas com forte declividade são responsáveis por inúmeras tragédias como a que vimos ocorrer em Angra dos Reis e na Ilha Grande, na virada do ano de 2009.
A grande ironia é que todos esses dramas e suas danosas consequências são, quase sempre, totalmente previsíveis e, muitas vezes, evitáveis.
O nosso objetivo, neste artigo, não é discutir as soluções, contenções,  muros de arrimo, terraços, estudos preventivos, mapeamentos das áreas de risco, implementação de leis e soluções que funcionem mas sim o de informar se você, a sua família ou o seu prédio estão em perigo por estarem em uma área de risco de escorregamento.
Abaixo discutirei os principais pontos que deverão ser utilizados em uma avaliação de risco preliminar com ênfase em desmoronamentos e deslizamentos. Saiba avaliar o perigo que você e sua família estão correndo.
Veja, com cuidado a lista abaixo e identifique o seu nível de risco. Se ele for alto não hesite em contactar a defesa civil e geólogos ou engenheiros especializados no assunto. Se estiver chovendo forte, em áreas de elevado risco, o melhor a fazer é simplesmente abandonar a sua residência até que um especialista tenha visitado a área e que um laudo sobre a segurança do imóvel tenha sido elaborado.
Esta é uma decisão difícil, mas se usada de uma forma consciente e racional deverá salvar vidas preciosas. A sua vida vale muito: não a desperdice.
Responda as seguintes perguntas e entenda o seu risco:
  1. O seu imóvel está situado em terreno de alta declividade?  Este é o ponto fundamental que deve ser avaliado.  A declividade e a instabilidade potencial da encosta. Se você tiver dúvidas  quanto a este ponto procure a opinião de especialista. Se as inclinações da  encosta onde você mora forem muito acentuadas pode existir o perigo de  deslizamentos. O risco aumenta a medida que as próximas perguntas sejam   verdadeiras.
  2. Existe algum córrego ou, vale descendo a encosta, nas proximidades?
  3. Já houve escorregamentos recentes na região, em  áreas similares a  sua?
  4. Existem rochas roladas, matacões ou blocos que possam indicar um  transporte por gravidade? Esses blocos acumulados, geralmente sem  uniformidade, no fundo das encostas, podem estar indicando que houveram  deslizamentos no passado.
  5. Existe algum corte efetuado no solo que possa aumentar o ângulo natural  da declividade? Cortes verticais em solos instáveis irão aumentar,  drasticamente, o risco de desmoronamentos.
  6. Existem áreas com lajedos  com grande declividade, sem ou com pouca  cobertura de solos, acima da sua residência ou na região? É comum em montanhas como as da  região do Rio de Janeiro, vermos lajedos nus com grande declividade.  Possivelmente eles foram expostos após grandes deslizamentos. Veja a foto do  desastre da Ilha Grande onde, após o deslizamento, foi exposto um grande  lajedo. Nas partes superiores existem outros lajedos mais antigos,  parcialmente cobertos por vegetação mais recente,  que  mostravam claramente a periculosidade da encosta onde ocorreu o desastre.
  7. É possível notar que em certas áreas da encosta existe uma vegetação  mais nova, diferente da vegetação mais antiga circundante? Em caso de  deslizamentos antigos a vegetação nova irá demarcar, com boa precisão a área  afetada.
  8. Existem, nas encostas próximas a sua casa, um bom número de árvores que  estejam inclinadas em direção morro abaixo? As árvores devem estar em sua  grande maioria verticalizadas. Se uma área apresenta suas árvores com  inclinação anômala isso pode significar um deslizamento incipiente ou  antigos movimentos de terra.
Pontos que podem atenuar o risco:
  1. A área já foi avaliada por geólogos especializados em  geo-engenharia que confirmaram a inexistência de risco de deslizamento? 
  2. Existe um estudo de risco da sua área feito pela Prefeitura ou órgão  competente demonstrando o baixo risco de desmoronamentos e deslizamentos?
  3. Existem obras de contenção específicas acima e abaixo de seu imóvel?
  4. Existem obras para evitar a infiltração da água nos solos acima  e abaixo de seu  imóvel?
  5. Existem  sistemas de controle de águas superficiais?
  6. Existem árvores com raízes profundas nas proximidades  que possam dar maior estabilidade ao solo?
Se as suas respostas indicarem que a área onde mora é de alto risco fale com um especialista imediatamente. Se as chuvas estiverem intensas evite permanecer no local enquanto a área não for liberada por especialistas.
Observe com atenção, informe as autoridades e salve vidas:
Nas próximas fotos iremos mostrar que é possível identificar com bastante precisão o risco de deslizamentos de uma dada região.
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Vista do deslizamento da Ilha Grande  onde existia a Pousada Sankay,  mostrando a formação do lajedo exposto pelo deslizamento. A área era de alto risco por estar situada em encosta muito  íngreme onde vários deslizamentos já haviam ocorrido no passado. Na parte superior da foto é possível ver os lajedos expostos antigos, cobertos por vegetação  rasteira, mais recente que mostram claramente a existência de  antigos deslizamentos. A área era, visivelmente perigosa. TRabalhos de  contenção deveriam ter sido feitos para evitar a tragédia que acabou ocorrendo. Na foto  é possível ver onde irão ocorrer os próximos deslizamentos que, poderão  ocorrer em muito breve, já que uma boa parte do solo que sustentava a  encosta não mais existe.



Veja os blocos rolados que  despencaram com o deslizamento de Sankay. Essa mesma situação é visível  em muitas encostas onde houveram antigos deslizamentos e deve servir  como um sinal evidente de que a área é insegura.


Na foto da Pousada Sankay em Angra, antes do desastre,  é possível ver grande quantidade de blocos rolados que possivelmente  foram deslocados e transportados em deslizamentos antigos. Muitos desses  deslizamentos antigos podem ter ocorrido a décadas ou mesmo a centenas  de anos. Estes blocos atestam que a região é propícia a ter  deslizamentos e, como tal, deveriam haver trabalhos de contenção de  encostas que poderiam, se existissem, ter evitado esta perda de vidas e  de patrimônio.


 
Vista de satélite (Google Earth) da Ilha  Grande na região da Pousada Sankay onde ocorreu o desastre .  São claros os lajedos expostos após antigos deslizamentos.   Na encosta acima da Pousada Sankay é visível um bom número de antigos  deslizamentos que estavam confirmando o alto risco de acidentes em toda  a encosta imediatamente abaixo.  Todas estas encostas de alta declividade, abaixo desses  lajedos, são de altíssimo risco de deslizamentos de terra e devem ser estudadas por  especialistas imediatamente. Não há como evitar:  trabalhos de  contenção de encostas deverão ser feitos ou mais vidas irão se perder nas próximas chuvas.


 
Foto de satélite da comunidade do Abrão na Ilha  Grande  mostrando o perigo potencial de deslizamentos em áreas urbanas.  Na foto são visíveis os antigos deslizamentos. Trata-se de uma  bomba-relógio que poderá explodir a qualquer momento. É preciso que as  autoridades iniciem estudos rápidos e eficientes para evitar mais  acidentes.

O fato é que os sinais de perigo são bastante aparentes e, a maioria das pessoas, pode identificá-los se observarem, com cuidado, a região onde moram.
Use os pontos listados acima e avalie o seu risco.
Os deslizamentos em encostas íngremes sempre existirão. Não há como evitar. O que podemos evitar é a morte de mais pessoas.

Ano novo, postagens novas...

Boa tarde pessoal,
O blog andou meio parado, em função de "probleminhas técnicos", eu entrei de licença para ganhar bebê e tudo o mais. Porém, pretendo voltar a postar coisas legais sobre geologia, mineralogia, mineração, enfim, um pouquinho de tudo ligado a este ambiente...
Para começar deixo o link da Associação Brasileira de Gemologia e Mineralogia, que sempre tem coisas legais...
:)